Ontem pedi-te que me contasses uma história. 'Uma história? Mas de que tipo?' - disseste tu. Apenas uma história, como as que se contam para adormecer. Admiraste-te com o pedido mas apressaste-te a satisfazê-lo:
'Era uma vez um astronauta que, depois de inúmeras viagens por outras tantas galáxias, chegou a um planeta onde encontrou um ser que em muito apresentava semelhanças com o que na terra se podia ter como animal de estimação. Podia ser um cão ou um gato. Era uma criatura diferente, talvez até estranha, mas amistosa, mostrava-se afável e de confiança. E por tudo o que a criataura lhe inspirava imediatamente se afeiçoou a ela. Ficou radiante por também a criatura mostrar sinais de afecto.
O astronauta ficou muito satisfeito com a situação. Tinha estabelecido contacto com um ser alienígena e isso era um feito notável neste e em qualquer mundo habitado, tratou, por isso, de cuidar bem da sua descoberta. E lá foi cuidando sempre o melhor que pode. Pensou que a sua missão a partir daí seria cuidar. E a criatura, aparentemente cuidada e cuidadosa, deixou-se cuidar porque pensou que esse cuidado era importante para o astronauta.
Os dias iam passando e os cuidados do astronauta tornavam-se uma rotina mais ou menos bem sucedida. Entretanto a criatura, que não era nem um gato nem um cão, interrogava-se sobre o que faria o astronauta manter tanto afinco em cuidados que, afinal, não eram tão necessários assim, e sentia-se incomodado. O astronauta olhava a criatura cada vez mais com estranheza e pensava e repensava como é que tanto empenho e afecto a cuidar poderia incomodar e, confuso, foi entristecendo. A criatura notou e ficou triste, sem saber como curar a tristeza do astronauta.
O astronauta conhecia cães e gatos e amava todos os animais. Queira o melhor para eles. Por mais que se esforçasse não entendia o desconforto e a indiferença da criatura que, entretanto, comunicava numa linguagem estranha e indecifrável. O astronauta começou a ter medo sem saber de quê. A criatura reparou e não percebeu porquê. O astronauta inventava maneiras de cuidar. A criatura inventava formas de se deixar cuidar sem esforço do astronauta. O astronauta cuidava que cuidava. A criatura queria cuidar sem nunca conseguir.
Ambos se tinham esquecido que eram apenas diferentes. Diferentes no sentir e no cuidar. E isso fazia toda a diferença das peças por encaixar. O astronauta e a criatura eram diferentes e atropelavam-se diariamente sem perceber os limites da diferença.'
Perfeito. Foi o que respondi. E tu sabias que sim, era por essa razão que tinhas escolhido essa história para me contares: é-te tão familiar quanto a mim. A nossa Metáfora. Diz-me, meu ET, será que com os nossos erros já aprendemos a moral da história?
(Sei que fizeste batota, era impossível esceveres com tamanha rapidez, mas dizes que tens as tuas fontes (Leia-se: http://dentrodocopovazio.blogspot.com). Eu não me importo, escolheste bem.)